“A maldade bebe ela mesma a maior parte do seu veneno."*

“O sábio basta-se a si mesmo”. Amigo Lucílio, muita gente interpreta incorrectamente esta máxima, afastando o sábio do mundo que o rodeia e reduzindo-o aos limites do seu corpo. Por conseguinte, é imprescindível distinguir bem o que significa, e qual o alcance desta frase: o sábio basta-se a si mesmo para viver uma vida feliz, não simplesmente para viver, na medida em que para viver carece de muita coisa, mas para ter uma vida feliz basta-lhe possuir um espírito são, elevado, indiferente à fortuna.”

“O sábio também pode estremecer, sofrer, perder a cor, pois tudo isto são sensações fisicamente naturais. Onde está então a desgraça, quando é que estes sintomas se tornam num mal verdadeiro? É apenas quando causam abatimento da alma, quando levam o homem a confessar a sua servidão, quando o forçam a arrepender-se de si mesmo.”

“O sábio goza de tranquilidade. Porquê? Porque o sábio não depende de factores externos, não está à espera dos favores da fortuna ou de outros homens. A sua felicidade está dentro dele; fazê-la vir de fora seria expulsá-la da alma, que é onde, de facto, a felicidade nasce. Pode uma vez por outra surgir qualquer ocorrência que lembre ao sábio a sua condição de mortal, mas ocorrências deste tipo são de somenos importância.”

“O homem feliz, insisto, é aquele que nenhuma circunstância inferioriza.”

Cartas a Lucílio, Lúcio Aneu Séneca, Fundação Calouste Gulbenkian.

*Esta frase é de Átalo, não de Séneca, como se encontra mal referenciada na internet. Séneca cita-o no livro. Não os lêem, e depois dá nisto.

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