Na aula de revolução.
- No outro dia, fiz uma revolução.
- Fizeste? Onde?
- No ginásio.
- Como é que fizeste uma revolução no ginásio?
- Numa aula de grupo, levei os meus alunos para a rua, pus músicas de intervenção a tocar, disse para toda a gente pôr um dos braços no ar e fechar bem os punhos.
- E depois?
- Depois, tinham de caminhar.
- Assim, de braço no ar, de punho fechado?
- Assim mesmo. Alternando, claro, para ganharem músculos nos dois braços.
- Mas isso não é uma revolução. Nas revoluções, as pessoas dizem coisas. Na tua revolução só se ouve?
- Não, não. Depois, criei frases de ordem: "Abaixo o governo", " Queremos mais pão", "Queremos um futuro".
- E se alguém quisesse dizer coisas diferentes?
- Pedíamos desculpa e explicávamos muito bem a razão de todos terem que dizer o mesmo.
- E se as pessoas se recusassem a participar na tua aula de revolução?
- Tentava fazê-las perceber o quão burras estavam a ser e que, sem a aula de revolução, nunca conseguiriam ter os músculos que tanto desejavam. Já que falas nisso, por acaso, tive um problema complicado nessa aula.
- Tiveste?
- Sim. um dos alunos virou-se para todos e disse: " Vou ganhar músculos à minha maneira. Não gosto que escolham as músicas que tenho de ouvir nem as palavras que tenho de dizer".
- E qual foi a vossa reacção?
- Ficamos a olhar uns para os outros, murmuramos, e continuamos a aula.
- Ignoraram-no?
- No início, sim. Mas, depois, ele pôs-se, no meio da aula, a gritar " Abaixo as aulas de revolução", como um louco. Tive de chamar o segurança.
- Feriu alguém?
- Não. Mas estava muito histérico, pelo que pedi ao segurança para chamar o 112. Via-se que o senhor não estava bem. Precisava de ajuda psicológica.
- E a seguir?
- Continuamos os exercícios.
- Já pensaste como seria se tivesses mais alunos como esse?
- Felizmente, estes casos são excepções e estão controlados. Já há muitos tratamentos para este problema.