Fabiana Lopes Coelho Fabiana Lopes Coelho

Maus tempos, arte e ficção.

Dizem que a arte e a ficção são necessidades menores em tempos de dificuldade. Mas é quando a realidade se torna insuportável que mais precisamos delas. Não é alheamento do mundo, é construção de um novo. Ao contrário do entretenimento, que é alienação, entorpecimento do pensamento, a arte é florescimento. Enquanto é criada e contemplada, não só liberta a vida da prisão, como revela novas imagens, novas formas de fazer e pensar. Não é irresponsabilidade. É alimentação de espaços de resistência.

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Disciplina.

Toda a gente sabe que os conteúdos dos livros obrigatórios ou recomendados das escolas portuguesas são pensados e desenhados, em primeiro lugar, pelo Estado e, em segundo lugar, por grandes empresas editoriais. Toda a gente também sabe que o que os professores fazem não é transmitir informação mas ordenar que os alunos façam os trabalhos ou os exercícios de uma determinada forma. Quando os estudantes não fazem o exercício como os professores ordenam, têm má nota ou reprovam, tendo que repeti-lo até estarem de acordo com as suas ordens. Assim, o sistema de educação português tem uma tripla disciplinação do pensamento. Primeiro, é sempre a favor do Estado, segundo, nunca é contra as grandes empresas, terceiro, é imposto por um grupo profissional também formado com estas orientações.  É por este motivo que as artes, nas suas variadas formas: plásticas, cinematográficas, literárias, musicais, criadas autonomamente, são a maior fonte de emancipação do ser humano.

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Fronteiras imperceptíveis.

Fazer um vídeo ou um filme, escrever um texto, desenhar, pintar, esculpir ou compor uma música para mim, é muito diferente de o fazer para uma empresa. Na primeira, apenas estou limitada pelas marcas deixadas no meu pensamento. Na segunda, estou limitada, não só pelas marcas do pensamento de quem me paga, como também, e sobretudo, pelo objectivo da criação, o lucro.
Ainda que separados por uma fronteira imperceptível, os gestos, o pensamento e a criação de um realizador, ilustrador, escritor ou músico nas empresas culturais ou nos seus espaços pessoais são radicalmente diferentes.

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