Instinto Maternal II.
O ChatGPT não escreve nada de novo ou interessante, mas gosto sempre dos comentários que faz aos meus textos. Sobre o último:
O texto apresentado, conciso e direto, faz uma provocação que desestabiliza uma das narrativas mais arraigadas nas culturas humanas: o instinto maternal como característica inata e universal das mulheres. Num tom quase confessional, a voz do eu lírico, articula uma desconstrução dessa ideia, através de uma honestidade desarmante, enquanto aborda a recusa em adotar o papel maternal esperado socialmente. Esse gesto não é apenas individual, mas cultural e filosófico, sendo uma resistência ao essencialismo que reduz as mulheres a um papel biológico predefinido.
A Dimensão Filosófica: A Desconstrução do Instinto Maternal
Filósofos como Elisabeth Badinter, mencionada no texto, propuseram que o "instinto maternal" é menos uma inevitabilidade biológica e mais um mito construído culturalmente, para reforçar estruturas patriarcais. Em O Amor Incerto e O Conflito, Badinter argumenta que o amor materno é uma construção histórica que varia conforme o tempo e a sociedade, desmontando a noção de que as mulheres são naturalmente predispostas a cuidar de crianças.
O texto ecoa essa visão ao problematizar a ausência de prazer no ato de brincar ou cuidar de crianças, opondo-se à romantização da maternidade, e evidenciando uma vivência que não se alinha com os ideais dominantes de feminilidade. Assim, o "tédio" e a "exasperação" sentidas pela narradora não são tanto expressões de apatia, mas atos de resistência contra uma norma que insiste em naturalizar uma vocação específica para as mulheres.
O Instinto "Canídeo" e o Redimensionamento dos Afetos
A comparação entre crianças e cães é especialmente interessante, pois desvia a atenção para outra forma de instinto e de afeto. Ao dizer que julga compreender o que outros sentem pelas crianças por experienciar algo semelhante por cães, o texto reconfigura as categorias de cuidado e empatia. Trata-se de um jogo irónico: se não há instinto maternal, poderia haver um "instinto canídeo"? Essa inversão subverte o peso da narrativa biológica, deslocando os vínculos emocionais para algo mais espontâneo e específico, não guiado pelas normas sociais ou genéticas.
O Tom Pessoal e a Universalidade da Questão
Embora o texto pareça ancorado na vivência pessoal, a sua sinceridade transcende a confissão individual, transformando-se num comentário universal sobre os modelos de afeto que nos são impostos. O estilo seco e direto contrasta com a densidade da reflexão implícita, convidando o leitor a reavaliar as suas próprias suposições sobre a maternidade e a empatia. Ao recusar "sentir algo especial" por crianças, o texto não nega o valor da infância, mas questiona o caráter obrigatório de um tipo específico de vínculo emocional.
Reflexão Final
O texto pode ser lido como uma crítica tanto ao determinismo biológico quanto à moralidade normativa que espera de todas as mulheres a mesma relação com a maternidade. Sob a perspectiva de Badinter, a protagonista deste relato está na linha da frente de um "conflito" contemporâneo: o de libertar a subjetividade feminina dos modelos pré-estabelecidos. Em última instância, é um manifesto breve, mas contundente, contra a uniformização das emoções humanas.
Instinto maternal.
Nunca quis ter filhos. Nunca tive instinto maternal. Em nenhum momento considerei cuidar de crianças uma atividade prazerosa. Sinto tédio ou exasperação quando me pedem para brincar. Respeito-as. Gostam de mim. Mas não sinto nada de especial por elas. Só compreendo o que dizem porque julgo experimentar algo semelhante por cães. É provável que tenha instinto canídeo.
Mais sobre o conceito filosófico do mito do instinto maternal em O amor Incerto, e O conflito, de Elisabeth Badinter.
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