Fabiana Lopes Coelho Fabiana Lopes Coelho

Instinto sexual.

Se, como afirma Schopenhauer, o amor é uma invenção bizarra que tem por objectivo sentimentalizar o instinto sexual, a que se deve a imensidão do desgosto amoroso?

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Autonomia.

O isolamento é um feito social. Estou afastado dos outros, encontro-me sozinho.

A solidão é um estado psicológico. Isolado ou acompanhado, sinto-me sozinho.

Há pessoas que vivem acompanhadas e sentem uma profunda solidão.

Há celibatários que nunca se sentem sozinhos.

A maioria das pessoas casadas circunscreve as suas actividades ao espaço doméstico e expectam a satisfação de todas as suas necessidades no companheiro.

A maioria dos celibatários realizam grande parte das suas actividades ou em comunidade ou fins artísticos.

Autonomizam-se.

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Seriedade.

Há uma coisa que me tem intrigado ultimamente: por que é que toda a gente quer impor-me sentimentos? Querem que eu sinta temor a deus, querem que eu sinta temor dos meus pais, dos meus avós, do meu chefe, do gerente do banco, de toda a gente em geral, e delas em particular. E chamam a isto respeito. "Tens de respeitar isto, tens de respeitar aquilo." E eu fico sem perceber o que eles realmente querem. Mas parece-me que andam à esmolinha das venerações. E se eu sentisse o que me apetecesse dos meus pais, dos meus avós, do meu chefe e do homem que trata das minhas contas no banco? Porque insistem que devo sentir o que elas desejam que eu sinta e não o que eu sinto efectivamente? É que é um bocado desgastante ter que fazer uma expressão de extrema seriedade sempre que surge o burlesco na vida. Tudo é sagrado! A economia é sagrada, os mercados são sagrados, a ciência é sagrada, os princípios gerais são sagrados. E ao sagrado o que é que se exige? Submissão e devoção. O problema é que, na maior parte das vezes, é, realmente, um caso sério, mas de idiotice. Basta olhar para o lado para perceber que o século XXI, tão doente mentalmente, está cheio de gente que levou tudo demasiado a sério.

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Na aula de revolução.

- No outro dia, fiz uma revolução.

- Fizeste? Onde?

- No ginásio.

- Como é que fizeste uma revolução no ginásio?

- Numa aula de grupo, levei os alunos para a rua, pus músicas de intervenção a tocar, disse para toda a gente pôr um dos braços no ar e fechar bem os punhos.

- E depois?

- Depois, tinham de caminhar.

- Assim, de braço no ar, de punho fechado?

- Assim mesmo. Alternando, claro, para ganharem músculos nos dois braços.

- Mas isso não é uma revolução. Nas revoluções, as pessoas dizem coisas. Na tua revolução só se ouve?

- Não, não. Depois, criei frases de ordem: "Abaixo o governo", " Queremos mais pão", "Queremos um futuro".

- E se alguém quisesse dizer coisas diferentes?

- Pedíamos desculpa e explicávamos muito bem a razão de todos terem que dizer o mesmo.

- E se as pessoas se recusassem a participar na aula de revolução?

- Tentava fazê-las perceber o quão burras estavam a ser e que, sem a aula de revolução, nunca conseguiriam ter os músculos que tanto desejavam. Já que falas nisso, por acaso, tive um problema nessa aula.


- Tiveste?

- Sim. Um dos alunos virou-se para todos e disse: " Vou ganhar músculos à minha maneira. Não gosto que escolham as músicas que tenho de ouvir nem as palavras que tenho de dizer".

- E qual foi a vossa reacção?

- Ficamos a olhar uns para os outros, murmuramos, e continuamos a aula.

- Ignoraram-no?

- No início, sim, mas depois pôs-se a gritar " Abaixo as aulas de revolução", como um louco. Tive de chamar o segurança.

- Feriu alguém?

- Não. Mas estava exaltado, pelo que pedi ao segurança para chamar o 112. Via-se que o senhor não estava bem. Precisava de ajuda.


- E a seguir?

- Continuamos os exercícios.

- Já pensaste como seria se tivesses mais alunos como esse?

- Felizmente, estes casos são excepções e estão controlados. Já há muitos tratamentos para o problema.

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Curadoria semanal.

Como não tenho tempo para escrever, a não ser para o doutoramento, e nem para ele tenho o que gostaria, vou deixar-vos coisas para se entreterem:

Para todos nós, que precisamos de psicoterapia.

Para quem acha que não se faz música muito boa em Portugal.

Para os medricas do género (Se não tiverem mais do que 5 minutos: 20:23 - 24:08)

Porque passei no Lux e lembrei-me das animadíssimas noites de electroclash do início do milénio.

Porque hoje é o dia internacional dos museus.

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